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sábado, 3 de setembro de 2016

Tramway da Cantareira - Breve Histórico





" Não posso ficar, nem mais um minuto com você... Sinto muito amor, mas não pode ser. Moro, em Jaçanã. Se eu perder esse trem, que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã! "




Eternizada na música Trem das Onze -Que nunca existiu nas estações terminais da linha, somente da estação anterior, Vila Mazzei, que partia exatamente às 22h59 em direção ao Jaçanã- composta por Adoniran Barbosa, um dos ícones musicais paulistas, o Tramway da Cantareira não sobreviveu à expansão feroz da cidade e nem de seus automóveis. 

A ferrovia que já ligou São Paulo à Guarulhos, caminho caótico atualmente entre as duas grandes cidades na região metropolitana, já teve uma conexão -também nem tão eficiente- por trilhos. Em tempos de expansão da rede metropolitana de trens, a futura Linha 13 da CPTM vem cumprir uma função que o antigo "Trem das Onze" já o fazia, ligar as proximidades do Aeroporto de Guarulhos, à São Paulo. Só que dessa vez, à zona leste da capital Paulista.

O Tramway da Cantareira,foi inaugurado em 1893 com o intuito de transportar os materiais de construção para o então primeiro reservatório de água da Cidade de São Paulo, na base da serra.
Devido ao aumento populacional que ocorria na época, além da existência de casas de veraneio na região, muito "próximo à natureza" conforme muitas vezes anunciado, atraía cada vez mais usuários para a ferrovia, até então voltada para o transporte de carga e com a bitola (espaço entre trilhos) de 0.60m, assim como a Estrada de Ferro Perus-Pirapora.

Sua utilização para passageiros começou principalmente aos finais de semana e feriados, para acessar as áreas de preservação com mais facilidade, depois ampliando para um transporte diário de passageiros.

Seu traçado original partia da região do Mercado Municipal, na estação Tamanduateí e se dirigia ao norte, em dois ramais que se dividiam no atual Parque da Juventude, em direção ao Reservatório com outra subdivisão para o Horto -ambos na serra da Cantareira- e para a Base Aérea de Guarulhos, seguindo um traçado que lembra muito ao da Linha 1-Azul do Metrô atualmente (Jardim São Paulo, Parada Inglesa e Tucuruvi).

A demanda que continuou crescente chegava à utilização de 30 mil passageiros mensais (que por dia seria quase mil passageiros), que se dividiam entre os bairros da zona norte e o Horto Florestal (que até hoje é um polo atrativo da região), forçou a Estrada de Ferro Sorocabana, que era operadora da ferrovia, promover o alargamento da bitola (para métrica) visando aumentar a capacidade de transporte e consequentemente, a segurança de tráfego, além da modernização de seus equipamentos.

Com o declínio das ferrovias em um cenário nacional, a linha foi desativada na metade da década de 1960, sob as desculpas de precariedade no atendimento, limitações nas melhorias devido ao traçado e abandonou, após o alargamento de bitola, um projeto que previa a eletrificação da ferrovia e da inserção de trens unidade elétrico (Semelhante aos trens da FEPASA) no sistema, onde substituiriam as locomotivas que rebocavam os carros, que por sua vez, substituíram as máquinas a vapor.

Seu traçado original, ainda é encontrado de certa forma preservado pelas ruas que substituíram os trilhos são lembrados por nomes, à exemplo da Rua do Tramway na Parada Inglesa e até por estações que ainda resistem de pé, como a própria Estação Cantareira, que se localiza dentro do Clube Sabesp (Local do primeiro reservatório) e agora, logo abaixo das obras do Rodoanel Norte.
Seu maquinário, não teve a mesma sorte. Atualmente, somente duas locomotivas sob a identificação 1 e 2, encontram-se na Estrada de Ferro Perus-Pirapora aguardando restauro. Só foram preservadas por terem sido vendidas para E.F.P.P., no momento em que a Cantareira deixou de utilizar a “bitolinha”.



Podemos conferir no vídeo a seguir, uma reportagem sobre o alargamento da bitola na ferrovia.



A história, preservada ao "melhor estilo brasileiro", de passar por cima de tudo em nome do progresso é pouca, mas é de extrema importância para entender o crescimento e a expansão da cidade e seus sistemas de transporte.




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